Por
Juremir Machado da Silva - Jornalista
“Eu acreditei piamente que as pessoas batiam
panelas e se vestiam de verde-amarelo, enchendo parques e avenidas, contra a
corrupção. Acreditei ingenuamente que estavam acima de partidos e ideologias em
luta pela justiça, pela transparência e pela punição aos saqueadores da nação”.
Eu acreditei francamente que seriam coerentes
e fariam o mesmo cada vez que uma situação equivalente se apresentasse. As
decepções não tardaram. Apareceram
denúncias pesadas contra o presidente Michel Temer. Nenhuma panela bateu.
Surgiu a mais impressionante série de provas gravada contra um senador, Aécio
Neves. Silêncio absoluto. Nenhuma camiseta da CBF nas ruas. Tudo vazio.
Dilma Rousseff foi derrubada pelos eleitores
de Aécio Neves. Por que panelas não bateram e não batem agora que a máscara do
tucano caiu? Por que panelas não ecoam agora que Michel Temer será julgado, e
salvo, pela segunda vez na Câmara dos
Deputados sob graves acusações de corrupção?
Foto: Deputado Bruno Araújo, PSDB/PE, batendo panela na tribuna da Câmara Federal. Vale lembrar que Dilma não foi
derrubada sob acusação direta de
qualquer ato de corrupção, mas pelas pedaladas fiscais. O que é mais grave:
pagar compromissos governamentais com adiantamentos de bancos públicos sempre
reembolsados ou receber propina de empresários?
Os senadores que salvaram Aécio são os mesmos
que afundaram Dilma em nome da moral. Por que as panelas não batem agora? Onde
andam os jovens líderes de movimentos ditos apartidários em defesa de um Brasil
limpo, novo, livre do cancro de políticos ladrões?
Eu acreditei realmente que a classe média
brasileira não se deixaria novamente manipular, como acontecera em 1964, e que
trataria todos da mesma maneira, com o mesmo rigor e a mesma convicção. O que
tem feito Temer para merecer leniência? Tentou liberar uma reserva na Amazônia
para a exploração total de minérios.
Resolveu proteger o trabalho escravo. Não
cobra uma dívida de 29 bilhões de ITR de ruralistas. Aprovou uma reforma
trabalhista que precariza a vida da plebe. Vai insistir numa reforma da
Previdência que levará muitos a morrer sem se aposentar. Corta verbas da
pesquisa e da educação. Temer é o presidente dos sonhos do mercado. Que
interessa a corrupção?
O STF prendeu Delcídio Amaral e afastou
Eduardo Cunha sem consultar o parlamento. Primeiro deixou Cunha derrubar Dilma.
Era útil. Quando chegou no queridinho Aécio, devolveu a decisão para o Senado,
que tratou de salvar o parceiro tornando-se definitivamente a instituição mais
desmoralizada do país e talvez do mundo. O STF provou que nossa justiça tem
lado, classe e ideologia. Quando interessa, respeita a Constituição. Quando
convém, atropela a Carta Magna sem o menor constrangimento em nome de algum
entendimento alternativo.
O caso Aécio é o maior escândalo da história da
justiça e do parlamento brasileiros. O caso Temer vem a seguir. Sem contar o impeachment
de Dilma, uma armação que levou ao poder um grupo crivado de comprometimentos
judiciais. Vários do ministério inicial já estão na cadeia. A farra continua.
As panelas cozinham. A fúria moral passou”.
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